A decisão foi tomada em resposta a Ação Direta de Inconstitucionalidade 4917
A ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu
liminar na noite desta segunda-feira suspendendo os principais artigos da Lei
dos Royalties do petróleo, promulgada na semana passada. A decisão foi tomada em
resposta a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) protocolada pelo governo
do Estado do Rio de Janeiro e precisa ser referendada pelo plenário do Supremo,
o que deve ocorrer ainda nesta semana.
"Pelo exposto, na esteira dos precedentes, em face da urgência
qualificada comprovada no caso, dos riscos objetivamente demonstrados da
eficácia dos dispositivos e dos seus efeitos, de difícil desfazimento, defiro a
medida cautelar para suspender os efeitos dos artigos 42-B; 42-C; 48, II; 49, II; 49-A; 49-B; 49-C; § 2º do art. 50; 50-A; 50-B;
50-C; 50-D; e 50-E da Lei Federal n. 9.478/97, com as alterações promovidas pela Lei n.
12.734/2012, ad referendum do Plenário deste Supremo Tribunal, até o julgamento
final da presente ação. Publique-se:" afirmou a ministra, segundo consta no andamento do
processo.
Em 51 páginas, a ADI afirma que a redistribuição fere princípios
constitucionais como o direito adquirido, a segurança jurídica e a
responsabilidade fiscal. Assinada pelo governador Sérgio Cabral, pela
procuradora-geral do Estado, Lúcia Léa Tavares, e pelo advogado Luís Roberto
Barroso, a petição afirma que a mudança na redistribuição dos royalties seria
uma "punição duplamente injusta" aos moradores de Estados produtores pela
possível piora dos serviços públicos com a queda de receitas derivadas da
extração do petróleo.
Entenda
A polêmica sobre a divisão dos royalties do petróleo do pré-sal começou
quando o governo decidiu criar um novo marco regulatório para a exploração do
óleo no País, determinando que os campos do pré-sal fossem licitados pelo regime
de partilha e não mais por concessão.
Os parlamentares dos Estados não-produtores viram na mudança uma
oportunidade de fazer uma nova divisão dos royalties entre Estados e municípios,
sem qualquer privilégio para os Estados produtores - Rio de Janeiro, Espírito
Santo e São Paulo -, mexendo inclusive nos contratos já em vigor. Aprovada pelo
Congresso, essa nova divisão foi vetada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva em 2010.
No governo Dilma, os parlamentares dos Estados não-produtores voltaram à
carga e aprovaram mais uma vez uma nova divisão dos royalties no ano passado, o
que foi vetado pela presidente. Esse foi o veto derrubado na madrugada de
quinta-feira, dia 7 de março, quando os parlamentares derrubaram todas as
negativas da presidente referentes ao assunto, o que incluía 142 dispositivos
rejeitados.
Com isso, deputados e senadores de Rio de Janeiro, Espírito Santo e São
Paulo - os Estados produtores - já preparam uma ofensiva na Justiça para tentar
anular essa votação e fazer prevalecerem os vetos da presidente, o que os
beneficia.
Pelo texto mais recente - que não conta com os vetos de Dilma -, Estados
e municípios não produtores de petróleo ganham mais dinheiro com royalties e
participação especial. Neste cenário, Rio de Janeiro e Espírito Santo alegam que
terão perdas superiores a R$ 3 bilhões apenas em 2013. Parlamentares fluminenses
e capixabas também contestam a mudança feita na distribuição dos royalties nos
contratos já assinados e argumentam que isso causa insegurança jurídica.
Para preencher as lacunas deixadas pelos vetos, a presidente enviou ao
Congresso uma medida provisória (MP) que destina 100% dos royalties para
investimentos em educação e restabelece os percentuais de participação especial
e royalties aprovados no Congresso para contratos já assinados e firmados a
partir da data da vigência da MP, que é de 03 de dezembro de 2012. Essa medida
está em tramitação no Congresso. Porém, se os vetos presidenciais forem
realmente derrubados na Justiça, a divisão dos recursos estabelecida pela MP
fica invalidada. A expectativa é que apenas os recursos para educação sejam
aprovados.
No final de 2012, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF),
concedeu uma liminar que suspendeu sessão do Congresso que analisaria o veto
presidencial sobre os royalties, baseado principalmente em erros que
determinaram a análise do veto referente ao pré-sal antes de mais de outros 3
mil vetos que aguardavam votação no Congresso. A sessão do Congresso que
derrubou o veto de Dilma só foi realizada depois que o plenário do próprio
Supremo derrubou a decisão liminar de Fux.
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